Precisamos abolir a palavra “boazinha”



Há tempos que ando com um grande incômodo com a palavra boazinha. 

Como podemos usar o diminutivo de um adjetivo tão nobre, como o “boa” para definir comportamentos que fazem tão mal a nós, mulheres? 

Vejamos alguns exemplos. 

É chamada de boazinha aquela mulher super agradável que sorri pra todo mundo sempre. Ela é uma unanimidade entre os colegas de trabalho e na família, uma espécie de Miss Simpatia, que tá sempre bem humorada e aparentemente feliz. 

É chamada de boazinha aquela mulher que não é de falar muito e que também não fala alto. Ela tem fala mansa, tende a ser quietinha, mas não tanto a ponto de parecer estranha, muito tímida ou deprimida. Quando é questionada sobre qualquer assunto, ela sabe o que responder. Não costuma se posicionar, mas interage bem, geralmente concordando. 

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É chamada de boazinha aquela mulher que é extremamente compreensiva. Ela acolhe o choro, o lamento e o mau humor de todos com muita paciência e amorosidade. Ainda que o outro seja agressivo ou desrespeitoso, ela não se abala porque entende que ninguém faz aquilo por mal. 

É chamada de boazinha aquela mulher que diz sim para todo tipo de demanda. Ela encontra tempo e energia para satisfazer as vontades do marido, do chefe, dos filhos, da mãe, do pai, dos irmãos e de quem quer que seja.  

É chamada de boazinha a mulher que não causa problema e nem entra em conflito. Pelo contrário, é sempre muito cordial e responde com calma e equilíbrio até mesmo quando se sente ofendida. Ela está sempre disposta a dialogar.  

Para descortinar o equívoco, que tal se, em vez de chamar de boazinha, nós qualificássemos tais comportamentos com adjetivos mais apropriados? 

Voltemos aos exemplos. 

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A mulher que está sendo simpática e sorrindo o tempo todo, em algum momento está enganando alguém – ou ela mesma ou os outros. Ela não é feliz assim o tempo todo – ninguém é – , mas ela performa porque o impulso de agradar é tão forte que já virou um condicionamento. Ela nem sabe direito porque tá sorrindo, mas quando viu, já o fez. Esta mulher não é boazinha, ela está desconectada de si mesmo ou sem força para mostrar o que realmente sente ou para encarar uma rejeição. 

A mulher que só fala baixo e não se posiciona está reprimindo qualquer forma de expressão mais espontânea ou visceral. Ela não se apropriou da força que tem ou não consegue se bancar diante dos outros. Ela vive engasgada com aquilo que não tem coragem de dizer ou de gritar. Esta mulher não é boazinha, ela está sufocada ou foi silenciada. 

A mulher que é sempre cordial e que evita conflitos desconhece as suas próprias convicções. Ela é medrosa, não defende a si mesma nem os seus valores – na verdade, muitas vezes ela nem sabe ao certo no que ela acredita. Essa mulher não é boazinha, ela não entendeu ainda a responsabilidade que tem na construção de uma vida melhor pra ela mesma – e consequetemente pro mundo. 

A mulher que não responde com firmeza a agressões e desrespeitos porque acredita que ninguém faz isso por mal, não é compreensiva ou evoluída, mas sim ingênua. Ela se refugia na racionalidade excessiva e numa falsa superioridade porque tem medo de sofrer e de reagir. Esta mulher não é boazinha, ela confunde compaixão com covardia. 

A mulher que diz sim para todas as demandas não sabe – ou não quer – impor limites aos outros. Esta mulher não é boazinha, ela não se prioriza, provavelmente porque não sabe do seu próprio valor. 

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Então, da próxima vez que alguém falar que uma mulher é boazinha, experimente trocar o “boazinha” por ingênua, falsa, desconectada, sufocada, silenciada, reprimida, desvalorizada, covarde, ferida, violentada, entre outras tantas palavras mais adequadas. 

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O texto aborda a questão do uso do termo “boazinha” para descrever comportamentos de mulheres que, na verdade, refletem questões mais profundas e problemáticas. A autora questiona a utilização de um adjetivo tão nobre como “boa” para descrever mulheres que muitas vezes se silenciam, reprimem suas emoções e desvalorizam a si mesmas em nome da aparente harmonia e aceitação social.

A mulher descrita como “boazinha” por ser sempre agradável e sorridente pode na verdade estar se escondendo por trás de uma máscara de felicidade, reprimindo suas verdadeiras emoções e necessidades. A mulher que não se posiciona ou fala baixo pode estar sufocando sua expressão autêntica e se silenciando diante dos outros. Aquela que evita conflitos e se mostra cordial pode estar desconectada de suas convicções e valores, vivendo com medo de confrontar sua própria verdade.

A autora sugere que, ao invés de usar o termo “boazinha”, sejam utilizados adjetivos mais apropriados para descrever esses comportamentos, como ingênua, falsa, desconectada, sufocada, entre outros. O objetivo é ressaltar a complexidade por trás dessas atitudes aparentemente positivas e chamar a atenção para as questões mais profundas que estão sendo mascaradas.

Em suma, o texto questiona a idealização da mulher “boazinha” e convida a refletir sobre os padrões de comportamento impostos pela sociedade que muitas vezes limitam a expressão autêntica e a valorização pessoal das mulheres. É um convite para uma reflexão mais profunda sobre a necessidade de se libertar dessas amarras e se reconectar com a própria verdade e poder pessoal.




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