Fracasso dos Testes de Semaglutida Para Alzheimer Desaba Ações da Novo Nordisk
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Os ensaios clínicos da Novo Nordisk sobre a doença de Alzheimer, que testavam uma versão oral mais antiga da semaglutida, não conseguiram retardar a progressão da doença neurodegenerativa, informou a empresa nesta segunda-feira (24).
Apontados anteriormente pela própria empresa como um “bilhete de loteria”, em referência à alta incerteza sobre os resultados, os estudos avaliavam se o medicamento poderia retardar o declínio cognitivo em milhares de pacientes com sintomas leves.
O resultado negativo frustra as expectativas da companhia de transformar o Alzheimer em um novo e relevante mercado para medicamentos GLP-1, como a semaglutida, e de recuperar terreno perdido para a rival Eli Lilly em áreas centrais como obesidade e diabetes.
“O fato de o estudo ter sido interrompido após dois anos, apesar de haver uma extensão prevista para um terceiro, sugere que a semaglutida dificilmente ofereça algum benefício na desaceleração da progressão do Alzheimer”, afirmou à Reuters Erik Berg-Johnsen, gestor de portfólio da Storebrand Asset Management, acionista da Novo Nordisk.
O ensaio clínico era acompanhado de perto como um teste para avaliar se medicamentos GLP-1, amplamente usados por milhões de pessoas para tratar diabetes e auxiliar na perda de peso, poderiam ter efeito sobre a doença. O remédio utilizado foi o Rybelsus, comprimido aprovado apenas para diabetes tipo 2, que também contém semaglutida, assim como Ozempic e Wegovy.
A Associação de Alzheimer disse estar desapontada com os resultados, mas afirmou que os estudos continuarão. “Embora este comprimido de semaglutida não tenha ajudado contra o Alzheimer, a área de pesquisa continuará investigando essa classe de medicamentos, pois eles podem agir de maneira diferente”, declarou a entidade.
A doença de Alzheimer e outras demências afetam mais de 55 milhões de pessoas em todo o mundo. Não há cura.
“Não foi o que esperávamos”
“Hoje anunciamos que nossos esforços para retardar a progressão da doença de Alzheimer chegaram ao fim”, disse o presidente-executivo da Novo Nordisk, Mike Doustdar, em vídeo publicado no LinkedIn.
“Sempre soubemos que a probabilidade de sucesso seria baixa, mas era importante determinar se a semaglutida poderia superar um dos maiores desafios da medicina, com base nos dados indicativos que tínhamos.”
A companhia afirmou em comunicado que observou impacto em biomarcadores da doença, sem especificar quais.
Os resultados dos dois ensaios com pacientes em estágio inicial, chamados Evoke e Evoke+, representam mais um revés para a farmacêutica e para Doustdar. O executivo havia comandado o ciclo de enorme sucesso impulsionado por Ozempic e Wegovy antes da desaceleração das vendas, da forte queda das ações, da troca de comando e das demissões em massa.
O insucesso reforça o ceticismo de analistas sobre as ambições da Novo no tratamento do Alzheimer. O UBS estimava apenas 10 por cento de chance de sucesso.
As ações da Novo chegaram a cair mais de 12 por cento após o anúncio e fecharam em baixa de 6 por cento, no menor patamar desde julho de 2021, um mês após o lançamento do Wegovy. As ações da Lilly subiram 1 por cento.
Diversos analistas classificaram a reação como exagerada. “A queda provavelmente está mais ligada ao sentimento negativo em relação às ações da Novo Nordisk e à sequência de notícias desfavoráveis ao longo do último ano, talvez houvesse alguma esperança de que esse estudo impulsionasse um pouco o mercado”, disse Soren Lontoft Hansen, analista do Sydbank.
Participantes dos testes
Por décadas, pesquisadores têm buscado tratamentos para o Alzheimer, doença marcada pelo acúmulo das proteínas amiloide e tau no cérebro, e a maioria dos resultados tem sido decepcionante.
As ações da Biogen subiram 3% após a divulgação do fracasso da Novo. O Leqembi, da Biogen em parceria com a Eisai, e o Kisunla, da Eli Lilly, são atualmente os únicos medicamentos aprovados nos Estados Unidos para retardar o declínio cognitivo provocado pelo Alzheimer. Ambos exigem infusões ou injeções e podem provocar efeitos colaterais significativos.
A Eli Lilly, outra gigante do mercado de medicamentos para obesidade, não testou seu GLP-1 para Alzheimer.
Os ensaios com Rybelsus envolveram 3.808 pacientes e foram os primeiros grandes estudos a testar medicamentos GLP-1 em pessoas com Alzheimer em estágio inicial. Eles utilizaram uma escala clínica para medir mudanças em áreas como memória e capacidade de autocuidado ao longo de dois anos. O objetivo era alcançar uma desaceleração de 20 por cento no declínio cognitivo.
A Novo apresentará os principais resultados do estudo na próxima semana, em um congresso dedicado ao Alzheimer. Os dados completos serão divulgados em outro evento, marcado para março do ano que vem.
“Embora esses resultados não sejam os que esperávamos, eles contribuirão para nossa compreensão dessa doença devastadora e fatal”, disse Joanne Pike, presidente da Associação de Alzheimer.
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