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Como Edgard Corona Transformou a Smart Fit na Maior Rede de Academias da América Latina

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Ao relembrar suas trajetórias, muitos CEOs recorrem a uma figura de linguagem e afirmam que escolheram suas carreiras ou as empresas em que prosperaram “por acidente”. Edgard Corona, principal executivo da rede de academias Smart Fit e um dos destaques da lista Forbes Melhores CEOs do Brasil 2025, diz o mesmo — mas, no seu caso, a frase é literal. Em dezembro de 1995, ele esquiava em Killington, no estado americano de Vermont, quando sofreu uma queda e rompeu gravemente os ligamentos do joelho. A recuperação levou vários meses e envolveu duas cirurgias e uma fisioterapia intensa. “Foram três, quatro horas por dia de exercícios todos os dias, durante seis meses”, relembra.

Apesar do episódio traumático, aquele momento acabou rendendo a Corona um novo propósito. Aos 39 anos, o engenheiro químico buscava um novo caminho profissional. Ele fazia parte da terceira geração de uma família paulista de empresários do setor de agroenergia, controladora da Usina Corona, em Ribeirão Preto. “Eu já trabalhava na empresa há 17 anos, tinha implantado várias modernizações e melhorado a produtividade, mas não havia mais espaço para mim”, conta. Com a decisão da família pela profissionalização da gestão, ele optou por sair do negócio.

Não por acaso, sua primeira ideia foi criar uma rede de escolas de natação. Ex-jogador de polo aquático e entusiasta das atividades físicas, Corona já demonstrava vocação empreendedora desde jovem. Como muitos da sua geração, ganhou um carro do pai ao completar 18 anos e entrar na faculdade, mas decidiu vender o veículo para investir o dinheiro em uma confecção — que não durou muito.

“O colaborador tem que perceber que é uma influência positiva na vida do cliente, pois o lucro é resultado de colaborador motivado e cliente satisfeito.”

Antes do acidente de esqui, ele já havia investido em uma academia na zona sul de São Paulo, o embrião da futura Bio Ritmo. Durante o período de reabilitação, passou a observar o negócio com o olhar de um cliente frequente e percebeu que havia muito a melhorar. Na época, o mercado de academias era dividido entre pequenos estúdios de bairro e grandes centros esportivos, com unidades de até 6 mil metros quadrados e uma variedade de modalidades, como natação, jiu-jitsu, pilates e musculação. Inspirado nesse modelo, Corona criou a Bio Ritmo, cuja unidade no Conjunto Nacional, em plena Avenida Paulista, está prestes a completar 30 anos de atividade.

Início da jornada empreendedora

O tamanho era parecido com as lojas-âncora da concorrência, com algumas inovações. “Fomos a primeira academia a contratar um arquiteto conhecido”, diz Corona. Ele também mudou o modelo de venda. Os concorrentes começavam a conversa apresentando o local ao candidato. “O vendedor mostrava o berçário sem perguntar se a pessoa tinha filhos”, diz. A Bio Ritmo inspirou-se no método das academias americanas. O vendedor fazia perguntas direcionadas e usava as respostas como argumentos para romper resistências do cliente. “Depois de desarmar as negativas, o vendedor dizia: ‘você precisa praticar atividade física; feche agora, se não gostar nós devolvemos o dinheiro’; como quase ninguém devolvia, a rede cresceu”, conta Corona.

O início não foi fácil, mas houve uma ajuda muito especial. Durante a fisioterapia, o executivo – que já havia sido casado e era pai de três filhos – conheceu a jornalista Soraya. A parceria na vida se estendeu aos negócios. “Estamos juntos há quase 30 anos, ela construiu a empresa comigo”, diz. O casal chegava na unidade da Paulista antes das 7h da manhã e só ia para casa perto da meia-noite. “Eu corria pela academia e ela ficava na recepção, organizava o financeiro e cuidava até dos uniformes.”

Os números, porém, teimavam em não entrar em forma. A saída foi abrir lojas menores em locais não tão badalados, cobrando menos. A mensalidade inferior seria compensada pelos custos muito mais baixos. Especialmente em itens como aluguel, IPTU, ar-condicionado e limpeza, em que os contratos são fechados por metro quadrado.

Outro recurso foi motivar as equipes. A Bio Ritmo (e depois a Smart Fit) desenvolveu métodos para engajar os times. Para Corona, foi uma ruptura com sua experiência no setor sucroalcooleiro, acostumado com uma dinâmica de comando e controle. “Em vez de mandar fazer, nós aprendemos a reunir as equipes e a perguntar como resolver os problemas”, diz ele. “Isso motiva as pessoas, que se sentem parte do negócio.”

Outra inovação foi implantar métricas de desempenho e satisfação do cliente que não se limitavam apenas às unidades. Os resultados de uma academia são comparados com os de unidades próximas. “Não adianta haver uma academia excelente se a loja do bairro vizinho tem um desempenho ruim”, diz. “Incentivamos os gerentes das academias com os melhores indicadores a compartilhar as soluções.” Segundo o executivo, o foco é fazer o colaborador perceber que ele tem uma influência positiva na vida do cliente. “O lucro é resultado do colaborador motivado e do cliente satisfeito.”

Inspiração da Smart Fit

O crescimento permitiu que Corona participasse de rodadas de negócio com os líderes globais do setor de fitness. Em 2007, durante uma conversa nos Estados Unidos, ele foi surpreendido pela preocupação dos americanos com um recém-chegado, a Planet Fitness. “Era uma academia que cobrava US$ 10 por mês, ou R$ 30 na época”, diz ele.

“Pensei que eles quebrariam, mas já tinham 700 unidades e não paravam de crescer.” Milagre? Não, gestão. “Eles economizavam em tudo e mantinham a rentabilidade elevada”, diz Corona. A receita de sucesso permanece. No fim do segundo trimestre de 2025, as 2.762 unidades da Planet Fitness em todo o mundo garantiram receita de US$ 340 milhões (R$ 1,8 bilhão) e lucro de US$ 58 milhões (R$ 307 milhões).

A Planet Fitness foi a inspiração para Corona lançar um concorrente de baixo custo para o próprio negócio. A Smart Fit caberia no bolso de um público com pouco dinheiro e muita vontade de suar a camisa. “Começamos com quatro lojas: em São Paulo, no Rio, em Brasília e em Porto Alegre, cobrando R$ 59 por mês”, diz ele. A proposta era oferecer o básico: bicicletas, salas de musculação e vestiário em 1.500 metros quadrados.

Sucesso absoluto. A rede começou a crescer depressa. Foram inauguradas mais cinco lojas no primeiro ano e havia planos de abrir mais 11 no ano seguinte. “Aí acendeu o alerta vermelho: o dinheiro iria acabar no meio do caminho”, diz Corona. Precisando de capital, ele foi procurar investidores. Fechou uma parceria com a gestora de fundos de private equity Patria, que comprou 50% do capital em 2009 e ainda possui cerca de 14%, participação semelhante à do próprio Corona. Em 2014 chegou o GIC, fundo soberano de Singapura.

Cinco anos mais tarde, em 2019, o Patria tinha de resgatar seu investimento. As alternativas eram realizar um Initial Public Offering (IPO) ou procurar investidores. A opção foi pela segunda alternativa. Entraram o fundo estatal Temasek, conterrâneo do GIC (que aumentou sua participação) e o Canadian Pension Plan Investment Board (CPPIB), dos fundos de pensão estatais canadenses.

Expansão e IPO na pandemia

A captação levantou quase meio bilhão de reais e permitiu sonhar alto. “Tínhamos 180 lojas, íamos crescer para 210 e já tínhamos contratado vários pontos”, diz ele. Só que, no fim de 2019, houve os primeiros sinais da pandemia do coronavírus. “Eu estava no Marrocos em fevereiro de 2020 quando começaram a chegar as notícias de isolamento social na Europa”, diz ele. “Pensei: ferrou.”

A Smart Fit suspendeu as atividades em 15 de março de 2020. Como a expectativa era de que o isolamento duraria de 60 a 90 dias, a rede manteve o processo de expansão. Em 2021, todo o dinheiro recebido dos novos sócios (e mais um pouco) havia sido perdido no abre-fecha de 2020. Corona desengavetou o IPO. A explicação é uma comparação automobilística. “Todos os carros estavam parados nos boxes, esperando a corrida recomeçar”, diz ele. “Se já estivéssemos com os motores ligados e com o tanque cheio, teríamos uma ou duas voltas de vantagem na hora da largada.”

O processo foi ajudado pelos juros baixos no mundo e pelas próprias limitações da pandemia. “Como não poderíamos fazer visitas, criamos um vídeo de um minuto e meio contando o que era a companhia, e apresentamos para cerca de 220 investidores.” A demanda foi muito superior à oferta. Negociadas com o código SMFT3, as ações da Smart Fit são um dos destaques da bolsa. Em um relatório publicado no início de setembro, os analistas Ruben Couto, Eric Huang e Vitor Fuziharo, do banco Santander, classificam a ação da Smart Fit como “outperform”, ou com perspectivas melhores que a média do mercado. “A Smart Fit continua sendo uma de nossas principais escolhas no varejo brasileiro”, escreveram eles.

Os papéis fazem parte do Ibovespa e de outros 14 índices de ações, segundo um levantamento da consultoria Elos Ayta. Um indicador mostra o apreço dos investidores. A relação entre preço e valor patrimonial indica a diferença entre a cotação (o preço de compra e venda) e o patrimônio da empresa (o valor contábil da ação). Se a ação custasse apenas seu valor patrimonial, a relação entre preço e valor patrimonial seria 1. No caso da Smart Fit, essa relação é 2,75. Ou seja, para cada R$ 1 de patrimônio, os investidores estão dispostos a pagar um prêmio adicional de R$ 1,75, convencidos de que a empresa vale muito mais do que o que consta nos balanços. “A permanência dessa relação por um período prolongado mostra que, ainda que a ação possa estar cara, os investidores não descartam a hipótese de novas altas”, diz Einar Rivero, sócio-fundador da Elos Ayta.

Internacionalização da Smart Fit

Entre o investimento do Patria e o IPO, Corona começou um movimento de expansão internacional, também de maneira não muito planejada. Em outra rodada de negócios, ele conheceu um empresário dinamarquês que havia investido em uma academia na Colômbia. A distância tornava o negócio uma encrenca em potencial. “Me ofereceram a participação do dinamarquês e fomos olhar”, diz o CEO. “Percebi que era um mercado parecido com o Brasil, com menos burocracia e menos concorrência.”

Corona gostou da ideia de diversificação geográfica. Logo seguiram-se unidades no México, no Chile e no Peru. Atualmente, a rede está em quase todos os países da América Latina, com exceção de Bolívia, Venezuela, Nicarágua e as Guianas. “Em lugares onde há mais jovens, a maior demanda é por treinamento cardiovascular; onde há mais velhos, a preferência é por musculação.” Ele diz que é mais fácil fazer negócios no exterior. “Os juros são mais baixos e há menos exigências burocráticas.”

Isso justifica um avanço para um país pouco visado pelos empresários brasileiros, o Marrocos. O CEO enumera as vantagens. “É um país muçulmano, mas a cultura é mais liberal, e as mulheres frequentam academias”, diz. “Nas unidades em bairros de renda mais baixa, é preciso estabelecer salas separadas para homens e mulheres, mas nas unidades mais afluentes nem isso é necessário.” O país também é geográfica e culturalmente próximo da França e da Espanha, o que garante negócios com a União Europeia. “A moeda é estável e os juros são de 5% ao ano.” A Smart Fit fechou parcerias com redes de varejo, para tornar a expansão mais barata.

A diversificação garante resultados robustos. Segundo dados do fim de junho, a Smart Fit tem 1.818 academias em 15 países, sendo 1.459 unidades próprias. No período entre janeiro e junho de 2025, foram atendidos 5,15 milhões de clientes, 2,3 milhões no Brasil. Essa multidão suando a camisa garantiu um faturamento de R$ 3,49 bilhões no semestre e um lucro líquido recorrente de R$ 330 milhões.

Esse resultado é garantido com a participação da família. Assim como a expansão da Smart Fit, a vida de Corona também seguiu rumos não planejados. “Quando eu era jovem, eu queria ter tido um casamento e dois filhos”, diz ele. “Tive dois casamentos e cinco filhos.” Com Soraya, ele é pai das gêmeas Maria Clara e Maria Paula. Dois dos três filhos da primeira união trabalham na Smart Fit. Diogo é membro do conselho de administração ao lado do pai e Chief Operating Officer (COO), e Carolina, que conduziu a expansão do grupo no México, é responsável pelas marcas Race Bootcamp, Tônus e Vidya. E Corona não pensa em parar. “Ainda estou motivado para fazer muita coisa.”

Reportagem original publicada na edição 134 da Forbes, lançada em setembro de 2025.

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