Como um Parceiro de Trump no Vietnã Lucrou com as Tarifas Americanas
Forbes, a mais conceituada revista de negócios e economia do mundo.
Em maio, o filho de Donald Trump, Eric Trump, vice-presidente executivo da Trump Organization, viajou ao Vietnã para anunciar um novo projeto imobiliário com a marca Trump: o Trump International Hung Yen, avaliado em US$ 1,5 bilhão (R$ 8,09 bilhões). Esse enorme empreendimento deverá contar com um hotel cinco estrelas, vilas de luxo e dois campos de golfe projetados pelo bicampeão do US Open Bryson DeChambeau, em 2.500 acres de terra ou 10.117.119,96 metros quadrados.
A cerimônia de inauguração, realizada em um terreno ao sul da capital vietnamita, Hanoi, foi bem menos glamurosa do que os elegantes escritórios do Oriente Médio que Eric visitara para fechar um acordo semelhante no Qatar apenas três semanas antes. Mas, para este país do Sudeste Asiático e para Dang Thanh Tam, o empresário vietnamita por trás desse acordo, trata-se de uma grande vitória.
“Este projeto é mais do que um empreendimento. É um compromisso com a excelência, uma celebração da cultura e um investimento duradouro no futuro do Vietnã”, disse Eric durante o evento. Dang complementou: “Estamos extremamente entusiasmados por dar vida a esta visão.”
O acordo foi assinado em setembro passado em Nova Iorque, dois meses antes de Trump vencer a eleição presidencial nos EUA. Porém ele já está sendo vantajoso para os Trump. A empresa de Dang pagou à Trump Organization US$ 5 milhões (R$ 26,95 milhões) em taxas de licenciamento pelo projeto, segundo a mais recente declaração financeira de Trump apresentada em junho.
Mesmo assim, o fluxo de dinheiro vai nos dois sentidos: Dang deve agradecer a Trump não apenas por esse acordo, mas, em parte, por sua fortuna atual. Nos negócios, Dang se parece muito com Trump, um desenvolvedor imobiliário negociador que construiu um império sobre uma montanha de dívidas. Assim como Trump, ele se endividou quase até o colapso, antes de ser salvo por forças geopolíticas mais amplas.
Hoje, Dang está entre os mais ricos do Vietnã. A fortuna dele é estimada em US$ 400 milhões (R$ 2,16 bilhões), graças à sua participação de 34% na empresa de desenvolvimento de parques industriais Kinh Bac City, e 29% na empresa de infraestrutura de telecomunicações listada em bolsa Saigontel.
Construindo o império
Dang fundou a Kinh Bac em 2002 e começou a construir parques industriais quando o Vietnã se abriu aos mercados globais. Isso atraiu fabricantes como a fornecedora da Apple, Foxconn, para seus imóveis. Em seguida, ele abriu capital da empresa em 2007 e se endividou para expandir sua fortuna, investindo em bancos e mineração, antes de quase perder tudo quando os juros dispararam em 2011.
Ele passou grande parte dos anos seguintes em retração, quitando e reestruturando as dívidas da empresa, que chegaram ao pico de US$ 360 milhões (R$ 1,94 bilhões) em 2013. Então, Trump assumiu o cargo em 2017 e desencadeou uma guerra comercial contra a China que provocou uma onda de realocações para o Vietnã, à medida que fabricantes buscavam evitar tarifas americanas sobre os produtos chineses. Dang lucrou muito com essa mudança, e a Kinh Bac se recuperou da crise.
Entre o início do mandato de Trump em 2017 e o final de 2021, as exportações vietnamitas para os EUA aumentaram 119%, e a Kinh Bac colheu os frutos, impulsionando sua receita e lucro líquido em 161% e 54%, respectivamente. A Kinh Bac atualmente possui 20 mil acres ou 8.093,7 hectares de terras industriais e residenciais em todo o Vietnã, com inquilinos de primeira linha como Canon, LG e Foxconn.
A empresa, com valor de mercado de US$ 1,3 bilhão (R$ 7,01 bilhões), depende do comércio com os EUA. No ano passado, mais de 90% de seus clientes eram empresas da China, Hong Kong, Japão, Coreia do Sul e Taiwan, a maioria exportando seus produtos do Vietnã para os EUA.
“Os EUA são o maior mercado de exportação do Vietnã, representando quase 30% do seu total de faturamento em exportações”, afirma Tieu Phan Thanh Quang, analista no banco de investimentos com sede em Hanói Thien Viet Securities. “A grande maioria dos eletrônicos de alta tecnologia e bens de consumo montados nos parques da Kinh Bac têm os EUA como destino final de exportação.”
Negócios e tarifas
Quando Trump voltou ao cargo em janeiro, parecia que seu segundo mandato não seria tão favorável a Dang quanto foi no primeiro. Dang já sofria com entregas mais lentas de terras industriais a inquilinos em 2024, quando a Kinh Bac registrou lucro líquido de US$ 17 milhões (R$ 91,63 milhões), com receita de US$ 110 milhões (R$ 592,90 milhões), numa queda de 81% e 46%, respectivamente, em relação ao ano anterior.
Depois, como parte de suas tarifas do “Liberation Day”, Trump anunciou uma taxa de 46% sobre importações vietnamitas em abril. As ações da Kinh Bac caíram 27% na semana seguinte. Nesse cenário, a cerimônia do Trump International Hanoi em maio não poderia ter surgido em momento melhor para Dang, oferecendo uma demonstração visual de seus laços estreitos com a família do 47.º presidente dos EUA. Também marcou a culminação de uma relação que ele vinha desenvolvendo desde o início do ano passado.
“Nos engajamos pela primeira vez com Eric Trump por meio de nossa rede internacional. A Trump Organization realizou uma rigorosa verificação de antecedentes comigo para garantir que eu estava limpo. Essa diligência me impressionou”, disse Dang à revista Forbes, por e-mail. “Consideramos outros parceiros, mas a marca global da Trump, sua expertise em luxo e crença no potencial de longo prazo do Vietnã alinharam-se melhor com nossas aspirações.”
Eric Trump discursando na cerimônia de inauguração do projeto do resort e campo de golfe Trump International, na província de Hung Yen, em 21 de maio de 2025
Em junho, as ações da Kinh Bac se recuperaram e a empresa registrou lucro líquido de US$ 47 milhões (R$ 253,33 milhões) com receita de US$ 140 milhões (R$ 754,60 milhões) nos primeiros seis meses de 2025, impulsionados por aprovações de novos parques industriais. E, em julho, Trump anunciou um novo acordo comercial com o Vietnã que reduziu a tarifa para 20%.
O acordo vai tributar mercadorias “reexportadas”, ou enviadas através do Vietnã de outros países, em 40%. Isso inclui produtos da China, mas ainda não está claro como a administração Trump determinará o que conta ou não como mercadoria reexportada. Independentemente disso, Dang agora está preparado para continuar lucrando com as guerras comerciais e permanece otimista quanto às perspectivas de sua empresa.
“As tarifas introduzidas sob a administração Trump criaram incerteza de curto prazo, mas também aceleraram mudanças na cadeia global de abastecimento. Para o Vietnã, isso foi uma oportunidade estrutural”, afirma Dang.
Apontando algumas das principais prioridades de Trump, ele acrescentou ainda que semicondutores e manufatura avançada estão se deslocando para o país. “O Vietnã tem duas vantagens-chave, uma força de trabalho jovem, treinável, e algumas das maiores reservas de terras-raras do mundo. A Kinh Bac está se posicionando como o construtor de ecossistema para este próximo capítulo”, disse o empresário.
O começo de tudo
Nascido em 1964 em Haiphong, então parte do Norte do Vietnã, Dang cresceu em meio à Guerra do Vietnã. O conflito moldou a geografia de sua infância. Sua mãe era do norte, e seu pai, do sul. A família se mudou para Ho Chi Minh City (antiga Saigon) em 1976, quando Dang tinha 12 anos, um ano após o fim da guerra. Aos 18, ele retornou ao norte para cursar a faculdade, estudando engenharia naval em sua cidade natal e, mais tarde, direito e administração em Hanói.
Depois, decidiu deixar o país, estudando administração no Reino Unido e direito na Austrália, antes de voltar para casa em 1988 para trabalhar como oficial marítimo na Saigon Shipping Company. O cargo o levou a países como China, Japão, Singapura, Coreia do Sul e Tailândia. “Esses anos me deram uma perspectiva global e me convenceram de que o Vietnã precisava de empreendedores privados capazes de competir internacionalmente”, afirma.
Em 1996, ele deixou o setor marítimo e se associou à irmã mais velha, Dang Thi Hoang Yen, hoje com 66 anos, para fundar um parque industrial de 450 acres nos arredores de Ho Chi Minh City. Como era comum no país comunista, os irmãos criaram uma joint venture chamada Tan Tao com uma empresa estatal e um grande banco vietnamita. Eles investiram US$ 1 milhão (R$ 5,39 milhões) em capital próprio e utilizando empréstimos bancários garantidos por recebíveis para financiar o restante do projeto de US$ 20 milhões (R$ 107,8 milhões).
Dang trabalhou ao lado da irmã até 2002, quando decidiu seguir sozinho e fundou a Kinh Bac City. “Uma de nossas primeiras grandes conquistas foi convencer a Canon a investir em Bac Ninh”, recorda, referindo-se à província vietnamita a leste de Hanói, onde sua empresa construiu seu primeiro parque industrial em 2003. “Ofereci taxas de terreno altamente competitivas e obtive apoio do governo provincial para construir a infraestrutura viária essencial.”
Seu próximo grande avanço veio em 2006, quando conheceu Terry Gou, bilionário fundador da Foxconn, a maior fabricante terceirizada de eletrônicos do mundo, conhecida por produzir a maioria dos iPhones, à margem da cúpula da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC), em Hanói.
Esse encontro levou à instalação da Foxconn como inquilina de um dos parques da Kinh Bac em 2007, e a empresa continua sendo um cliente fundamental até hoje. “Gou uma vez me pediu que prometesse estar sempre no Vietnã para recebê-lo, e mantive essa promessa”, conta Dang.
No mesmo ano, Dang abriu o capital da Kinh Bac na bolsa de Ho Chi Minh City com uma avaliação de US$ 1 bilhão (R$ 5,39 bilhões), o que impulsionou sua fortuna para quase US$ 400 milhões (R$ 2,16 bilhões), tornando-o o homem mais rico do Vietnã na época. Ele reinvestiu essa riqueza em três bancos e em uma mineradora de titânio, que se tornariam a base de um império em expansão com cinco empresas listadas em bolsa até 2010. Em 2011, ingressou na Assembleia Nacional do Vietnã, o parlamento controlado pelo regime, como representante.
Foi então que ele quase perdeu tudo. Dang havia se endividado pesadamente para construir seu império, e, em entrevistas à Forbes Vietnã em 2021, ele disse que sua estratégia era “eu tenho 1, pego emprestado 3 e faço 4”. Essa equação foi por água abaixo quando o aumento das taxas de juros em 2011 o atingiu em cheio.
Em 2013, ele havia vendido toda a sua participação em dois bancos de capital aberto, e a Kinh Bac City enfrentava dificuldades, com uma dívida que chegou a 188% do valor de seu patrimônio.
Volta por cima
O empresário conta que depois dos reveses no setor bancário, ele tomou a decisão de se desfazer das áreas fora do foco principal e concentrar-se no mercado imobiliário industrial. Foi assim que Dang conseguiu controlar suas dívidas e voltou a crescer com força no final dos anos 2010 e início dos 2020. Agora, o Vietnã, e a Kinh Bac, estão no centro da chamada estratégia “China + 1”, adotada por fabricantes que buscam diversificar a produção e evitar a dependência exclusiva de Pequim.
“O principal catalisador foi a guerra comercial entre EUA e China, que expôs o risco de concentrar cadeias globais de suprimento em um único país”, explica Tieu, do Thien Viet Securities. “Essa tendência foi amplamente acelerada pelas severas interrupções operacionais causadas pelos lockdowns da Covid na China. Para grandes montadoras como Foxconn e Samsung, criar uma alternativa robusta de manufatura fora da China tornou-se uma necessidade estratégica para garantir o acesso estável ao mercado americano.”
A concentração de terras industriais da Kinh Bac no norte, próxima ao coração industrial do sul da China, faz com que ela esteja especialmente bem-posicionada para se beneficiar. “Essa proximidade é uma grande vantagem, pois permite que as empresas transfiram a montagem final para o Vietnã enquanto ainda obtêm componentes de forma eficiente de fornecedores de longa data do outro lado da fronteira”, diz Tieu.
Apontando para uma província no norte onde a Kinh Bac opera um parque industrial de 1.275 acres, ele acrescenta: “A Foxconn investiu bilhões para expandir sua presença em Bac Giang, especificamente para produzir iPads e MacBooks, produtos que, historicamente, eram fabricados apenas na China.”
O Vietnã já produz a maioria dos MacBooks, iPads e relógios da Apple vendidos nos Estados Unidos, revelou o CEO da Apple, Tim Cook, em uma teleconferência de resultados em 31 de julho.
E não é só isso. Além da Foxconn, a Kinh Bac tem entre seus principais clientes as empresas chinesas Goertek e Luxshare, responsáveis por fabricar componentes dos AirPods e de outros produtos da Apple. Ambas também teriam sido contratadas para produzir peças do novo dispositivo da OpenAI idealizado por Jony Ive, ex-diretor de design da Apple.
Quanto ao novo empreendimento hoteleiro de Dang, as perspectivas são mais incertas. Ele já administra alguns hotéis por meio de uma joint venture, mas financiar o resort de golfe de US$ 1,5 bilhão (R$ 8,09 bilhões) com a marca Trump será um desafio muito maior. “O sucesso dependerá fortemente de como a Kinh Bac estruturará o financiamento do projeto, provavelmente por meio de parcerias e dívidas sem recurso”, acrescenta Tieu.
Dang, no entanto, não demonstra preocupação. Para ele, a “marca global” da Trump Organization ajudará sua empresa a se consolidar como uma incorporadora de luxo. Sua relação nascente com os Trumps, assim como suas parcerias de longa data com líderes de grandes clientes estrangeiros, como a Foxconn, representa uma vantagem competitiva que seus concorrentes não têm.
E, à medida que a empresa do presidente continua anunciando acordos internacionais, Dang não descarta buscar novos projetos com a marca Trump no futuro. “O Trump International Hung Yen é apenas o começo”, afirma, acrescentando: “Pretendemos desenvolver mais empreendimentos de alto padrão e continuamos abertos a novas parcerias com Trump.”
O post Como um Parceiro de Trump no Vietnã Lucrou com as Tarifas Americanas apareceu primeiro em Forbes Brasil.
#Como #Parceiro #Trump #Vietnã #Lucrou #Tarifas #Americanas
Observação da postagem
Nosso site faz a postagem de parte do artigo original retirado do feed de notícias do site forbe Brasil
O feed de notícias da Forbes Brasil apresenta as últimas atualizações sobre finanças, investimentos e tendências econômicas. Com análises detalhadas e insights de especialistas, a plataforma aborda tópicos relevantes como mercado de ações, criptomoedas, e inovação em negócios. Além disso, destaca histórias de empreendedores e empresas que estão moldando o futuro da economia. A Forbes também oferece dicas sobre gestão financeira e estratégias para aumentar a riqueza pessoal. Com um enfoque em informações precisas e relevantes, o site se torna uma fonte confiável para quem busca se manter atualizado no mundo financeiro.
Palavras chaves
Como um Parceiro de Trump no Vietnã Lucrou com as Tarifas Americanas
Notícias de finanças
Mercado financeiro hoje
Análise de mercado de ações
Investimentos em 2024
Previsão econômica 2024
Tendências do mercado de ações
Notícias sobre economia global
Como investir na bolsa de valores
Últimas notícias financeiras
Mercado de ações ao vivo
Notícias de economia mundial
Análise de investimentos
Dicas para investir em ações
Previsão de crescimento econômico
Como começar a investir
Análises financeiras atualizadas
Mercado de criptomoedas hoje
Previsão de recessão econômica
Finanças pessoais e investimentos
Notícias sobre bancos e finanças
