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Conheça o Bilionário Japonês Que É um dos Maiores Rivais da Netflix

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Em 2021, controles remotos de televisão com um botão dedicado à U-Next se tornaram amplamente disponíveis no Japão, oferecendo acesso com um clique a um popular serviço de streaming local. Desde então, segundo a empresa de pesquisa GEM Partners, com sede em Tóquio, a U-Next superou a Amazon Prime Video e se tornou a maior rival da Netflix no país em participação de mercado.

Com 4,6 milhões de assinantes (em fevereiro), a U-Next é pequena se comparada aos gigantes globais do streaming, que contam com milhões de espectadores ao redor do mundo, mas pode se orgulhar de ter uma das maiores bibliotecas de conteúdo local, incluindo programas das emissoras japonesas TBS Holdings e TV Tokyo Holdings.

Os assinantes da U-Next recebem muito mais — os mais recentes sucessos de bilheteria de Hollywood, transmissões ao vivo de shows musicais, partidas de futebol da Premier League inglesa e séries de sucesso como The White Lotus, além de acesso online a e-books, quadrinhos e revistas. O pacote de assinatura também oferece pontos todo mês que podem ser usados para comprar ingressos de cinema e acessar novos lançamentos.

Essa abordagem voltada para o espectador fez com que o provedor de serviços de streaming, que pertence à empresa listada U-Next Holdings, se tornasse um nome consolidado no Japão. Mas Yasuhide Uno, presidente e CEO da empresa, que transformou a U-Next — avaliada em US$ 2,6 bilhões (R$ 14,50 bilhões) — a partir de um problemático negócio familiar, mira muito mais. Por exemplo, ele está determinado a mais do que triplicar a receita da empresa, alcançando ¥1 trilhão (US$ 7 bilhões; R$ 39,06 bilhões) até 2035.

“Para mim, não é apenas um número”, diz Uno em uma entrevista em seu escritório na sede da empresa, em Tóquio, próximo da movimentada estação de Meguro. “Se mantivermos um crescimento anual de 10%, essa meta de um trilhão de ienes será alcançável.”

Razão para o sucesso

Ultimamente, a U-Next parece estar no caminho certo. A empresa registrou um crescimento de dois dígitos no ano fiscal encerrado em agosto de 2024, com a receita subindo 18%, para ¥ 326,8 bilhões (US$ 2,29 bilhões; R$ 12,78 bilhões), e o lucro líquido aumentando 40%, para ¥ 15,4 bilhões (US$ 108 milhões; R$ 602 milhões). A empresa afirma que espera manter esse ritmo no atual ano fiscal, com uma meta de receita de ¥ 360 bilhões (US$ 2,52 bilhões; R$ 14,06 bilhões) e lucro líquido de ¥ 16,7 bilhões (US$ 117 milhões; R$ 652 milhões).

Investidores otimistas também elevaram o preço das ações da U-Next em quase 40% no último ano. Isso impulsionou o patrimônio líquido de Uno na mesma porcentagem, para US$ 1,6 bilhão (R$ 8,93 bilhões), colocando-o na 34ª posição entre os mais ricos do Japão.

A U-Next possui outros negócios que contribuem ainda mais para o lucro operacional do que o entretenimento, embora sejam menos visíveis. A empresa oferece uma variedade de serviços, como música ambiente, máquinas de ponto de venda, serviços de TI e computação em nuvem, além de robôs de atendimento para cerca de 860 mil lojas, restaurantes, salões de beleza, hotéis e hospitais em todo o país. Também fornece serviços de banda larga e energia renovável para empresas e residências, e recentemente expandiu para os setores de pagamentos e imóveis.

Analistas afirmam que a U-Next é menos vulnerável a turbulências domésticas e globais, já que a maior parte de sua receita vem de assinaturas ou contratos de longo prazo. “Cerca de 80% da receita é recorrente. Esses serviços têm uma natureza de crescimento contínuo das vendas à medida que o número de clientes aumenta”, escreveu o analista Naoto Takahashi, da Aizawa Securities, em um relatório para investidores em abril.

A ambição de Uno para a U-Next vai além dos números. Ele quer consolidar seu legado transformando a empresa em um ícone da indústria japonesa. “Costumo falar sobre querer me tornar uma empresa que seja necessária e que represente o Japão, uma empresa conhecida e confiável, e pela qual os japoneses tenham grandes expectativas e carinho”, afirma.

Como tudo começou

Foram mais de duas décadas tumultuadas para Uno desde que assumiu o lugar de seu falecido pai, em 1998. Mototada Uno iniciou um negócio em 1961, em Osaka, para fornecer música ambiente por meio de cabos coaxiais para lojistas e restaurantes. A Osaka Yusen Broadcasting, como era chamada então, expandiu-se nacionalmente, cobrindo 80% do país. Uno insiste que nunca teve vontade de entrar para o negócio da família. “De forma alguma”, afirma. “Meu pai também era, na verdade, contra a sucessão. Na minha cabeça, eu queria fundar e administrar minha própria empresa. Achei que meu irmão mais velho, Yasuhiko, assumiria se houvesse uma sucessão familiar.”

Após estudar Direito na Universidade Meiji Gakuin, ele trabalhou em uma empresa imobiliária que desenvolvia projetos de condomínios em Tóquio. Em 1989, cofundou a Intelligence, uma empresa de serviços de recrutamento, que dirigiu como CEO. Quando Mototada foi subitamente diagnosticado com câncer terminal aos 63 anos, recorreu ao filho mais novo. “Disseram ao meu pai que ele só tinha três meses de vida”, lembra Uno. “Acho que ele pensou que, como eu já havia fundado uma empresa e estava me preparando para listá-la, eu estava preparado como gestor.”

Uno estava longe de estar preparado para o que viria pela frente. Os cabos utilizados para transmitir música ambiente haviam sido instalados em postes de utilidade pública sem a devida autorização do governo ou das empresas responsáveis pela infraestrutura. A empresa havia acumulado uma dívida de ¥ 80 bilhões (US$ 571 milhões ou R$ 3,186 bilhões), respaldada por garantias pessoais de seu pai. Foram necessários alguns anos para que Uno conseguisse a permissão do então Ministério de Correios e Telecomunicações para utilizar os mais de 7 milhões de postes que a empresa ocupava — além de desembolsar ¥ 50 bilhões (US$ 357 milhões ou R$ 1,991 bilhão) em taxas acumuladas. O pagamento das dívidas levou muito mais tempo.

Com a situação um pouco mais regularizada, Uno pôde focar na expansão além do legado da música ambiente. Em 2000, ele renomeou a empresa para Yusen Broad Networks, refletindo seu próximo movimento: a atualização da rede de cabos para introduzir aquele que, segundo a empresa, foi o primeiro serviço comercial de banda larga por fibra óptica do mundo — começando em Tóquio e, eventualmente, expandindo-se para todo o país. Uno acreditava fortemente que a internet “mudaria a sociedade” e que a distribuição de vídeo seria a próxima grande tendência.

“Desde a primeira vez que conheci o Uno-san, nos primórdios do boom da internet no Japão, ele já tinha uma visão sobre o poder transformador da conectividade, especialmente sobre como os serviços de streaming poderiam revolucionar o entretenimento”, diz Hiroshi Mikitani, fundador e CEO do gigante japonês de comércio eletrônico Rakuten, por e-mail. “Ele é um dos líderes mais obstinados que conheço.”

Mikitani e Uno colaboraram para lançar uma plataforma de conteúdo pago em 2001 chamada Showtime — seis anos antes de a Netflix estrear seu serviço de streaming — que exibia filmes, dramas, animes e esportes. Em 2009, a Rakuten comprou a participação de 50% da Usen na plataforma por ¥ 1,8 bilhão (US$ 12,8 milhões; R$ 71,5 milhões) que, na época, já contava com 60 mil títulos e 1,1 milhão de assinantes.

Ascensão da U-Next

Uno apostou ainda mais no streaming e, em 2005, mudou o nome da empresa para Usen, lançando um serviço gratuito de vídeo, apoiado por publicidade, chamado GyaO, que oferecia programas de TV locais e filmes, além de conteúdo estrangeiro. Dois anos depois, ele estreou um serviço pago de assinatura chamado GyaO Next, o precursor do U-Next. O GyaO chamou a atenção do Yahoo! Japão, que investiu ¥ 530 milhões (US$ 3,78 milhões; R$ 21,1 milhões) para adquirir uma participação de 51% em 2009, com o objetivo de construir uma das maiores plataformas de distribuição de vídeo do país.

A Usen começou a desmoronar junto com a crise financeira global. Em um período de dois anos até agosto de 2009, a empresa registrou prejuízos superiores a ¥ 113 bilhões (US$ 805 milhões; R$ 4,492 bilhões), principalmente devido às aquisições agressivas feitas por Uno, que incluíam a Intelligence e a distribuidora de equipamentos e músicas para karaokê BMB, o que resultou em baixas contábeis. Em 2010, os credores da empresa perderam a paciência, e Uno foi forçado a renunciar.

Uno havia listado a Intelligence na bolsa Jasdaq em 2000, transformando-a em uma subsidiária da Usen em 2009, mas teve que vendê-la para a firma de private equity KKR um ano depois por ¥ 32,5 bilhões (US$ 231 milhões; R$ 1,288 bilhão). Segundo o livro de Hiroshi Kodama, de 2020, “A Coragem de um Empreendedor: A Ascensão e Queda das Empreitadas de Yasuhide Uno”, ele estava sob forte pressão dos bancos para pagar os empréstimos, devido ao risco de violar cláusulas de financiamento, e para deixar o cargo.

Uno admitiu em entrevistas à mídia local que teve dificuldades para lidar com as consequências. Hoje, ele afirma que sua franqueza é valorizada. “As pessoas frequentemente me dizem que se sentiram encorajadas”, diz. “Aprende-se mais com quem passou por vários fracassos do que com executivos que tiveram sucesso em linha reta.”

Na época em que deixou a Usen, Uno negociou um acordo de ¥ 10 milhões (US$ 71 mil; R$ 396 mil) com a empresa para adquirir os negócios deficitários de streaming por assinatura e serviços pessoais de banda larga. Esses dois negócios foram reunidos em uma empresa chamada U-Next, que foi desmembrada da Usen.

Felizmente para Uno, o timing funcionou. Com o aumento da penetração da internet no Japão, ambos os negócios ganharam força. Em 2014, a empresa já estava estável o suficiente para que ele realizasse a abertura de capital da U-Next na bolsa de startups Mothers da Bolsa de Valores de Tóquio.

Em 2017, Uno orquestrou uma fusão complexa para retomar o controle da Usen, bem como sua posição de CEO, aproveitando sua participação de quase dois terços na U-Next e os cerca de 30% de ações que ainda detinha na Usen. Ele acabou ficando com cerca de 70% da empresa combinada Usen-Next Holdings, que no ano passado ele renomeou como U-Next Holdings. Atualmente, Uno detém uma participação inferior a 60%.

Mais ambições

Uno acredita que o mercado de streaming do Japão, que foi impulsionado pelos confinamentos da Covid-19, está pronto para outro salto de crescimento. A GEM Partners projeta que o setor crescerá mais de 50%, passando de ¥ 526 bilhões (US$ 3,74 bilhões; R$ 20,9 bilhões) no ano passado para quase ¥ 790 bilhões (US$ 5,61 bilhões; R$ 31,6 bilhões) em receita até 2029. Comparando com o mercado dos EUA, Uno vê amplo espaço para crescimento. No Japão, segundo a GEM, cerca de 40% da população paga por assinaturas de streaming, com uma média de 1,8 assinatura por domicílio. De acordo com o relatório Digital Media Trends da Deloitte, de março de 2025, 90% dos americanos possuem pelo menos um serviço de streaming pago, com uma média de quatro assinaturas por família.

Embora reconheça que os consumidores japoneses estão acostumados a acessar conteúdo gratuitamente, Uno acredita que há potencial para alcançar 60% de penetração. A U-Next pretende atingir 10 milhões de assinantes na próxima década — o equivalente à base atual de assinantes da Netflix no Japão. Contudo, o preço competitivo da gigante americana representa um desafio. A mensalidade da U-Next de ¥ 2.189 (US$ 15,6; R$ 87,7) para acesso ilimitado é consideravelmente maior do que o plano padrão sem anúncios da Netflix, de ¥ 1.590 (US$ 11,4; R$ 63,7), e mais que o dobro do plano mais barato, com anúncios, de ¥ 890 (US$ 6,35; R$ 35,7).

“O preço é alto, mas os clientes podem acessar lançamentos… e outros conteúdos como mangás”, afirma Aya Umezu, CEO da GEM. “Embora superar a Netflix em número de usuários seja difícil, é muito possível ultrapassá-la em receita por conta do valor elevado da mensalidade.” A U-Next possui uma quantidade “avassaladora” de conteúdo, acrescenta Umezu. No ano passado, a U-Next assinou um acordo com a Warner Bros. Discovery para disponibilizar marcas da sua plataforma Max, como Discovery Channel, Animal Planet e HBO.

Uno reconhece que alcançar a meta de 10 milhões de assinantes pode ser difícil apenas por crescimento orgânico. “Em um mercado saturado como o nosso, as empresas que não conseguem sobreviver acabam sendo incorporadas por outras, algo que já está acontecendo”, afirma.

Próximos passos

Em 2023, ele fechou um acordo crucial com uma empresa local que fortaleceu o catálogo de conteúdo japonês da U-Next — dando-lhe uma chance real de competir com os gigantes do streaming. A troca de ações com a Premium Platform Japan (de propriedade da TBS, TV Tokyo e outros), que operava a plataforma de assinatura paga Paravi, proporcionou à U-Next mais assinantes e acesso a cerca de 19 mil títulos, incluindo reprises de emissoras de TV japonesas. Uno sugere que mais acordos desse tipo podem acontecer.

Além do streaming, a U-Next planeja expandir outros negócios, aproveitando sua força de vendas de 2 mil pessoas e mil técnicos para ajudar a vender serviços cruzados e ampliar sua presença em segmentos ainda pouco explorados. Por exemplo, menos de um terço dos hospitais no Japão e menos de um quarto dos hotéis empresariais utilizam máquinas de pagamento automático. No ano passado, a U-Next adquiriu a provedora de serviços de pagamento NetMove por quase ¥ 5,8 bilhões (US$ 41 milhões; R$ 228,3 milhões) para oferecer pagamentos sem dinheiro físico, complementando os serviços de ponto de venda da empresa.

Uno também tem planos de crescer no exterior, mas de forma cautelosa. No setor de streaming, a parceria com a Warner se expandiu, dando à empresa americana os direitos de distribuir o conteúdo japonês da U-Next globalmente. Em fevereiro, a U-Next estabeleceu uma subsidiária na Malásia para desenvolver e franquear restaurantes virtuais com certificação Halal. A U-Next entrou no setor alimentício em 2022, com a aquisição da WannaEat, um serviço de entrega de alimentos então chamado Virtual Restaurant, por um valor não divulgado. “Sei muito bem que expandir para o exterior não é fácil”, observa.

Uno já enfrentou desafios ainda maiores. Depois que deixou a Usen, ficou obcecado por triatlos, chegando a se classificar para o Campeonato Mundial de Triatlo de Longa Distância de 2015, na Suécia, onde conseguiu cruzar a linha de chegada. A experiência extenuante lhe ensinou uma lição que provavelmente o ajudou a conduzir sua movimentada carreira empresarial: “Quando se pratica esportes desafiadores, você de alguma forma começa a pensar que, por mais difícil que seja, eventualmente vai acabar.”

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