De ‘Rei’ do Cachorro-quente a Dono de um Império Imobiliário: a Saga de Dick Portillo
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Já se passaram 11 anos desde que Richard “Dick” Portillo vendeu a Portillo’s, a rede de restaurantes de cachorros-quentes ao estilo de Chicago e sanduíches de carne italiana, que ele fundou em 1963. Sentado na sala de estar de sua casa de cerca de 836 metros quadrados, nos arredores de Chicago — a poucos minutos de carro do primeiro Portillo’s que abriu há mais de 60 anos — o ex-fuzileiro naval de 85 anos se sente nostálgico.
“Eu me arrependo de ter vendido. Não devia 10 centavos a ninguém”, ele diz. Mas no fim, sabia que era a decisão certa. “Havia 24 grupos de private equity interessados em comprar a Portillo’s. O momento era perfeito.”
Portillo passou mais de cinco décadas transformando uma simples barraca de cachorro-quente em um trailer de 1,80 m por 3,60 m, sem água encanada, em uma rede regional tão querida que a cidade de Chicago declarou oficialmente 5 de abril — o dia da fundação — como o “Dia do Portillo’s”. Em 2014, a empresa faturava em torno de US$ 300 milhões (R$ 1,63 bilhão) com 38 unidades em quatro estados. A rede não tinha dívidas e Portillo era dono de todos os restaurantes. Ele vendeu tudo em julho daquele ano, embolsando quase US$ 1 bilhão (R$ 5,45 bilhões) da empresa de private equity Berkshire Partners, de Boston.
De volta à diversão
De repente, Portillo se viu com muito dinheiro e pouco o que fazer. Logo após a venda, negociou a recompra de terrenos e prédios de 20 restaurantes e centrais da Portillo’s em Illinois e no Arizona por mais de US$ 100 milhões (R$ 545 milhões), garantindo contratos de locação de 20 anos em alguns dos endereços mais lucrativos da rede. Isso porque a média de uma unidade Portillo’s é de US$ 7,6 milhões (R$ 41,4 milhões), valor acima de gigantes em rápido crescimento como Chick-fil-A e Raising Cane’s. Nas unidades da região de Chicago, a média é de US$ 11 milhões (R$ 59,9 milhões). Ele também continuou atuando como consultor até 2021, ganhando US$ 2 milhões (R$ 10,9 milhões) por ano.
Desde então, reinvestiu o restante em dezenas de negócios: de shoppings de bairro nos arredores de Chicago e imóveis industriais em Indiana a apartamentos em Houston e casas de luxo em Naples, na Flórida. Portillo é o acionista majoritário do Boathouse, em Disney Springs, o terceiro restaurante independente mais lucrativo da América, com receita de US$ 47 milhões (R$ 256,1 milhões) no ano passado, além de investidor em uma tradicional steakhouse de Chicago. Também comprou quatro unidades da Portillo’s e planeja comprar mais. “Essas são algumas das coisas que eu tenho”, diz ele, folheando fotos de suas propriedades espalhadas pelo país e enumerando seus negócios mais bem-sucedidos. “Nada mal para um garoto sem educação.”
Somado a isso, sua carteira de títulos, ações, fundos de private equity, além de casas, jato e iate (batizado de Top Dog), fizeram Portillo ficar mais rico do que nunca: seu patrimônio ultrapassa US$ 1 bilhão (R$ 5,45 bilhões), segundo estimativas da Forbes.
Ainda assim, mesmo com todo esse sucesso, ele admite que a vida é menos empolgante do que nos dias em que estava construindo seu primeiro negócio. “A Portillo’s era divertida. Muito trabalho, meu Deus, as horas e os sacrifícios”, lembra. “Me arrependo de ter vendido, era mais feliz. Estou feliz agora, mas era mais divertido.”
Da necessidade à oportunidade
Nascido em Chicago, filho de uma mãe imigrante grega e um pai mexicano, que trabalhava em fábricas e vendia seguros, Portillo cresceu pobre em um conjunto habitacional público. Não era bom aluno e, sete dias após se formar no ensino médio em 1957, se alistou nos fuzileiros navais.
Após dois anos em Camp Pendleton, na Califórnia, voltou para Chicago e se casou com sua namorada do colégio, Sharon. Trabalhou em ferro-velhos, fábricas, dirigindo caminhões e descarregando vagões, enquanto Sharon trabalhava como garçonete.
Com um filho e outro a caminho, Portillo queria mudar de vida. “A maioria das brigas dos meus pais era por dinheiro, e eu não queria ser pobre”, ele conta. “Pensei: ‘é pra lá que estou indo com esses empregos todos’. Eu não tinha treinamento para nada.”
Percebendo quantas barracas de cachorro-quente existiam nas ruas de Chicago, decidiu abrir a sua — mas nos subúrbios, onde havia menos concorrência. Abriu a primeira em Villa Park, em 1963. Com 23 anos, convenceu a esposa a colocar todas as economias da família — US$ 1.100,00 (R$ 5.995,00), hoje equivalentes a US$ 11.600,00 (R$ 63,2 mil) — no negócio, que batizou de “The Dog House”. Seu irmão Frank também investiu o mesmo valor, mas Portillo comprou sua parte quatro meses depois.
Sem entender nada de restaurantes ou de cachorro-quente, ele começou a observar os concorrentes para descobrir de onde vinham as carnes, pães e condimentos, até que o negócio começou a crescer. As vendas dobravam a cada ano e, em 1967, mudou-se para um prédio de alvenaria e rebatizou a marca como Portillo’s. Um outro importante avanço foi a instalação de um banheiro.
Estratégias a frente do tempo
Ele usou toda criatividade possível para superar a concorrência. Em 1983, ao abrir a primeira unidade com drive-thru, pediu para o filho Michael comprar rádios comunicadores na Radio Shack para que um atendente anotasse pedidos dos clientes na fila enquanto o outro repassava para a cozinha. “Achei a ideia mais idiota do mundo. E por Deus, ele estava certo. Os resultados foram imediatos”, conta Michael, hoje com 65 anos, ainda vice-presidente de suporte da Portillo’s.
Portillo também apostou em um cardápio mais variado, acreditando que seria a melhor forma de se diferenciar das grandes redes nacionais de fast-food. “Pensei: a Portillo’s não só pode competir com McDonald’s e Burger King, como pode dar um baile neles. Não é só cachorro-quente, são dois tipos de frango, dois tipos de linguiça polonesa, hambúrgueres, saladas”, ele diz. Isso exigia treinar os funcionários exaustivamente — um manual de 1988 detalhava até como lavar panelas e atender clientes. Muitos trabalharam para ele por décadas. “Nos fuzileiros, aprendi o valor do trabalho em equipe, da organização e do treinamento”, acrescenta.
Em 1988, a Portillo’s já faturava US$ 20 milhões (R$ 109 milhões) ao ano. Naquele mesmo ano, a Forbes destacou Portillo como um empresário promissor, descrevendo como ele decorava cada restaurante com antiguidades, cada um com um tema diferente, de lanchonete dos anos 1930 a diner dos anos 1950. “Essas são coisas que uma rede de fast-food comum não faria”, disse ele na época.
Avanço interestadual
A expansão para fora de Illinois começou em 2005, com uma unidade na Califórnia. Cinco anos antes, a empresa já fazia entregas nacionais, e Portillo escolhia cidades onde sabia que havia muitos ex-moradores de Chicago. Em 2013, expandiu para Indiana e Arizona, onde um restaurante em Scottsdale faturou US$ 82 mil (R$ 446 mil) no dia da inauguração, com centenas de pessoas na fila. “Abri quatro unidades em um ano sem pedir empréstimo, paguei tudo em dinheiro”, ele diz. “Quando inauguramos, foi uma loucura. Era como imprimir dinheiro.”
O sucesso da Portillo’s em crescer sem perder a identidade chamou a atenção de investidores como a Berkshire Partners. “Ele criou um conceito de restaurante único em um mercado superlotado”, afirma Mike Miles, diretor da Berkshire e membro do conselho da Portillo’s, que ajudou a levar a empresa à bolsa em 2021. “Uma unidade média da Portillo’s faz tanto delivery quanto uma Domino’s. E muito mais drive-thru do que um McDonald’s. [Portillo] foi muito estratégico ao oferecer variedade sem dificultar tanto a operação a ponto de não ser possível executá-la bem.”
Depois da venda, o empresário aplicou a mesma filosofia em seus investimentos: diversificação máxima. Em um de seus shoppings suburbanos, por exemplo, os inquilinos incluem um lava-rápido, um restaurante mexicano, um salão de beleza e uma FedEx. “Não há um inquilino principal que, se fechar, te deixe na mão. Essa é minha rede de segurança.”
Novos inquilinos
A partir de 2014, construiu uma carteira de cerca de 2 mil apartamentos no Texas, Flórida, Geórgia e Kentucky. Durante a pandemia, os aluguéis dispararam no sul dos EUA e Portillo vendeu a maior parte deles entre 2021 e 2024, mas manteve 270 unidades em Houston, 97% ocupadas. Em 2016, começou a comprar imóveis industriais em Indianápolis, acumulando quase 370 mil m² e atraindo inquilinos como Amazon e FedEx, em meio ao boom por galpões logísticos.
Seu modelo virou referência para outros empreendedores que venderam seus negócios. “Ele me ensinou a escolher os melhores imóveis, construir, revender e ganhar”, diz o bilionário Jimmy John Liautaud, fundador da rede Jimmy John’s, que vendeu sua empresa entre 2016 e 2019 e considera Portillo um mentor.
Portillo também foi prudente com o dinheiro: 63% em títulos, 22% em ações e 15% em outros investimentos, como private equity. Quando arriscou, se deu bem: em 2014, colocou US$ 5 milhões (R$ 27,2 milhões) na Uber, cinco anos antes da abertura de capital. Hoje, sua fatia vale cerca de US$ 13 milhões (R$ 70,9 milhões).
Nem por isso ele demonstra empolgação. “São todos meio entediantes”, brinca. O que o diverte mais atualmente é construir casas em Naples, do zero. “Meu hobby é construí-las e decorá-las. Me diverti muito fazendo isso.”
Mas esse é o investimento em que ele menos confia. “Dois ou três anos atrás, Naples era um dos mercados imobiliários mais quentes do país. Coloquei US$ 54 milhões (R$ 294,3 milhões) nessas casas, só vendi uma até agora. O resto desvalorizou”, ele conta. “Quer comprar uma? Faço um bom preço.” Já o bilionário David Hoffmann, vizinho de Portillo em Naples e dono de um império imobiliário na região, é mais otimista: “Acredito muito nesse mercado. É o melhor lugar para viver na América.”
Entre paixões e pragmatismo
Mesmo reclamando de tédio, a aposentadoria lhe deu tempo para se dedicar às paixões. Fã da história da Segunda Guerra Mundial, Portillo produziu um documentário para a PBS sobre a busca pelos destroços do almirante japonês Isoroku Yamamotu — o arquiteto do ataque a Pearl Harbor — na ilha de Bougainville, no Pacífico. Também é um ávido colecionador de arte, com antiguidades astecas, chinesas, egípcias, gregas e romanas. Além disso, já doou quase US$ 13 milhões (R$ 70,9 milhões) para organizações como a Chicago Diabetes Foundation — sua esposa Sharon tem diabetes tipo 1 —, sua antiga escola e o Wounded Warrior Battalion em Camp Pendleton.
Quanto à empresa que construiu e comandou por 51 anos, Portillo é pragmático. Não possui ações da Portillo’s e raramente vai aos restaurantes. Com a rede se expandindo sem ele — hoje um negócio de US$ 711 milhões (R$ 3,87 bilhões) em receita anual e 94 unidades em dez estados — ele olha para os imóveis que possui apenas como investimento.
“Se eles quebrarem ou fecharem, ainda tenho um ótimo imóvel e gosto de ser proprietário”, ele diz. “Sempre haverá alguém procurando um bom ponto comercial.”
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