Empresa de Trump Reduz Participação em Empreendimento de Criptomoedas
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Uma das empresas de Donald Trump reduziu sua participação na World Liberty Financial — um dos principais empreendimentos de criptomoedas do presidente — de 60% para 40% em algum momento nos últimos 11 dias, segundo uma análise dos termos detalhados no site da própria World Liberty. A mudança, que aconteceu sem nenhum alarde, é mais um sinal de que o presidente — ou alguém agindo em seu nome — continua fechando acordos de bastidores enquanto ocupa o cargo.
Donald Trump anunciou a criação da World Liberty Financial em setembro, quando já estava na reta final da campanha presidencial. O projeto fazia promessas vagas de uma “revolução financeira” e vendia tokens que não podiam ser revendidos, destinando 75% da receita, depois dos primeiros US$ 30 milhões (R$ 165,3 milhões), diretamente para Trump e seus familiares.
Para receber esse dinheiro, os Trumps criaram uma série de empresas. O presidente alterou o nome de uma entidade que ele havia fundado em 2016, a DT Tower II LLC, transformando-a em DT Marks DEFI LLC. Donald Trump detinha 100% da DT Tower II LLC, mas seus filhos — presumivelmente Don Jr., Eric e Barron — passaram a ter 30% de participação na DT Marks DEFI LLC, ficando o pai com os outros 70%. Em julho de 2024, alguém registrou três novas empresas no estado de Delaware usando as iniciais dos filhos: DJT Jr DEFI LLC, ET DEFI LLC e BWT DEFI LLC.
Segundo um relatório de divulgação financeira que resumia os negócios do presidente, aparentemente até o fim de dezembro, a empresa que funciona como guarda-chuva da família, a DT Marks DEFI LLC, possuía 75% de participação na World Liberty Financial.
Queda na participação
No entanto tudo começou a mudar no início do ano. Perto da posse, que aconteceu em 20 de janeiro, o negócio explodiu. Em um intervalo de 29 horas, os Trumps e seus parceiros venderam mais de US$ 200 milhões (R$ 1,10 bilhão) em tokens da World Liberty. A estrutura da empresa também passou por mudanças. No dia 24 de janeiro, o site da World Liberty já informava que a DT Marks DEFI LLC detinha “aproximadamente 60%” da World Liberty Financial, uma queda em relação aos 75% que a família parecia possuir poucas semanas antes.
Por volta da mesma época da posse, um fiscal que havia sido nomeado para monitorar as finanças da Trump Organization, como parte de um processo por fraude, foi informado de que os Trumps planejavam vender uma participação de uma de suas empresas, aparentemente a própria DT Marks DEFI LLC. A carta não especificava quem estava interessado na compra nem o valor envolvido na negociação. Na semana passada, representantes da Trump Organization e da World Liberty não responderam às perguntas sobre essa venda.
Em março, a World Liberty anunciou que já havia vendido US$ 550 milhões (R$ 3,03 bilhões) em tokens. Cerca de uma semana depois, a empresa lançou outro projeto: uma criptomoeda atrelada ao dólar americano. Uma companhia criada pelo presidente dos Emirados Árabes Unidos deu um empurrão inicial para esse stablecoin, concordando em usá-lo para fazer um investimento de US$ 2 bilhões (R$ 11,02 bilhões) em uma grande corretora de criptomoedas.
Novas vendas
No dia 5 de junho, uma emissora de stablecoins que não tem ligação com Trump, chamada Circle, abriu capital na Bolsa de Valores de Nova York. As ações dispararam imediatamente, quase triplicando no primeiro dia de negociação, mostrando o quanto os investidores do mercado tradicional estão empolgados com negócios de stablecoins. Se a World Liberty fosse avaliada da mesma forma que a Circle, o empreendimento de stablecoin de Trump poderia valer hoje US$ 1,7 bilhão (R$ 9,36 bilhões).
Com números assim, faz sentido que os Trumps tenham decidido colocar um pouco de dinheiro no bolso. Em algum momento depois do dia 8 de junho, o texto no site da World Liberty mudou novamente — agora indicando que a DT Marks DEFI LLC possui cerca de 40% do negócio, uma queda em relação aos 60% anteriores. Mais uma vez, os detalhes sobre essa transação são escassos. Ao considerar a volatilidade das ações da Circle, é difícil estimar quanto os Trumps podem ter recebido com essa venda. Mas, se a empresa estivesse avaliada nos mesmos termos da Circle na última sexta-feira (13), a família Trump poderia ter embolsado US$ 190 milhões (R$ 1,04 bilhão), sendo que, desse total, US$ 135 milhões (R$ 743,9 milhões) provavelmente foram destinados ao próprio presidente.
Os representantes da Trump Organization e da World Liberty não responderam aos pedidos de comentário — o que faz sentido, já que divulgar esse tipo de venda poderia, em tese, desvalorizar as participações restantes de Trump no mercado de criptomoedas.
Ao que tudo indica, a família Trump já está de olho em vendas ainda maiores no futuro — e pode contar com uma ajudinha de gente poderosa em Washington. Na terça-feira (17), o Senado dos Estados Unidos aprovou um marco regulatório para stablecoins, algo que foi muito comemorado pelo setor de criptoativos. No dia seguinte (18), as ações da Circle, que é hoje uma emissora de stablecoins listada em bolsa, dispararam 34%.
Uma ótima notícia para o presidente.
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