Energia Nuclear para IA Transforma Fundadores em Bilionários
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As ações da Oklo, uma empresa de fissão nuclear com 12 anos de existência, subiram 47% na última semana e mais de 400% nos últimos seis meses, graças ao entusiasmo em torno do potencial da energia nuclear para impulsionar o boom da inteligência artificial (IA).
O aumento mais recente ocorreu após os governos dos EUA e do Reino Unido assinarem um acordo na última quinta-feira (25) para investir US$ 350 bilhões (R$ 1,87 trilhões) em IA, computação quântica e energia nuclear; apesar da alta, ainda não está claro se os acordos nucleares beneficiarão diretamente a Oklo.
A empresa, com sede em Santa Clara, também iniciou a construção de sua primeira usina nuclear, no Laboratório Nacional de Idaho, controlado pelo Departamento de Energia. O valor de mercado da Oklo é de US$ 21 bilhões (R$ 111,93 bilhões).
O crescimento da Oklo fez com que os cofundadores, Jacob DeWitte, CEO, e Caroline Cochran, diretora de operações, se tornassem novos bilionários. O casal fundou a companhia em 2013, enquanto DeWitte era estudante de doutorado de engenharia nuclear no MIT.
Cochran, que se formou no MIT com mestrado em engenharia nuclear em 2010, havia acabado de completar um período como consultora de marketing e engenharia.
O nome Oklo vem dos depósitos minerais ricos em urânio de Oklo, em Gabão, conhecidos por terem passado por fissão autossustentada há dois bilhões de anos. Cada fundador agora tem uma fortuna estimada em US$ 1,7 bilhão de dólares (R$ 9,07 bilhões), segundo estimativas da Forbes, com base em sua participação combinada de 16% na empresa e US$ 30 milhões (R$ 160 milhões) provenientes da venda de ações. Cochran, que tem 42 anos, é uma das poucas mulheres bilionárias “self-made” nos EUA, sendo uma das seis com menos de 50 anos.
Apesar da valorização das ações e do fato de ter iniciado a construção de sua primeira usina, a empresa ainda não gerou receita e continua registrando prejuízos, US$ 25 milhões (R$ 133,25 milhões) no segundo trimestre de2025, e de US$ 55 milhões (R$ 293,15 milhões) no ano encerrado em junho.
Influência governamental
O que a Oklo tem, porém, é um relacionamento de longa data com o Secretário de Energia, Chris Wright, que integrou o conselho da empresa até ser confirmado no cargo governamental em fevereiro. Isso, por sua vez, provavelmente ajudou a garantir a aparente bênção de Donald Trump. “O mercado precisa disso e quer isso. A energia nuclear é uma manifestação da dominância energética”, disse DeWitte ao presidente Trump no escritório Oval, em maio, onde Trump assinou ordens executivas para acelerar o desenvolvimento nuclear.
Desde então, o Departamento de Energia tem adotado um cronograma agressivo para três novos projetos de reatores nucleares em pequena escala, com o objetivo de alcançar a criticidade inicial até 4 de julho de 2026.
Porém, a relação da Oklo com o governo nem sempre foi tranquila. Em 2022, a Comissão Reguladora Nuclear (NRC) dos EUA rejeitou a solicitação de reator da Oklo, em parte, porque a empresa não compartilhou informações suficientes sobre seu reator com a NRC. Agora, em um momento em que o DOE (Department of Energy, ou Departamento de Energia) está buscando apoiar startups nucleares como alternativas energéticas, a Oklo tem o apoio federal necessário. A empresa agora participa de um programa piloto com o DOE, originado das ordens executivas de Trump.
A Oklo não respondeu ao pedido de comentário antes da publicação.
Outros vínculos
A Oklo também tem fortes laços com Sam Altman, que cofundou e co-liderou a AltC, uma SPAC (Special Purpose Acquisition Company, ou Empresa de Aquisição de Propósito Específico) que levou a Oklo à bolsa no ano passado. Altman também foi presidente do conselho da Oklo de 2015 até abril, quando ele se afastou – talvez para facilitar um acordo entre a Oklo e a OpenAI. “À medida que a Oklo explora parcerias estratégicas para implantar energia limpa em larga escala, particularmente para viabilizar a implantação de IA”, escreveu Altman em um comunicado.
Altman é um grande acionista, possuindo participação estimada de US$ 880 milhões (R$ 4,7 bilhões), sendo a maior parte dessa quantia proveniente da compra de ações fundadoras na AltC por US$ 0,002 (R$ 0,01) por ação, em 2021. Isso representa um retorno de mais de 70 mil vezes o valor investido, talvez o maior de sua carreira até agora. Também esteve envolvido na AltC o diretor de operações da OpenAI, Brad Lightcap, embora não se saiba se ele ainda tem algum papel na Oklo.
O objetivo de longo prazo da empresa é o de gerar energia nuclear por meio de usinas de fissão rápida. Esse processo utiliza nêutrons de movimento mais rápido para dividir núcleos atômicos e, assim, gerar energia, em vez dos reatores convencionais que utilizam nêutrons mais lentos e, muitas vezes, água. O objetivo da Oklo é o de projetar, possuir, construir e operar sozinha essa forma de gerar energia nuclear.
A companhia também está focada em reatores de pequena escala, os quais o Departamento de Energia tem promovido como mais eficientes em termos de capital, além de serem mais flexíveis. Porém, críticos que desejam mais pesquisas dizem que isso poderia gerar mais resíduos. Uma vez que se torne comercialmente viável, caso isso aconteça, a Oklo espera vender a energia diretamente aos consumidores por meio de contratos de compra de energia, em vez de vendê-la para grandes concessionárias, no modelo mais comum de negócio.
As perdas da Oklo provavelmente continuarão, pois seu objetivo é ter uma usina em funcionamento até o final da década. A empresa ainda não firmou um “contrato vinculativo com nenhum cliente para operar uma usina ou fornecer eletricidade ou calor”, segundo os documentos regulatórios da Oklo. Para financiar tudo isso, a companhia está em processo de levantar até US$ 1 bilhão (R$ 5,33 bilhões) em capital adicional.
Desafios à vista
Mesmo no espaço experimental da Oklo, há grande concorrência, incluindo TerraPower, apoiada por Bill Gates; a X-energy, sustentada pela Amazon; e Kairos Power, que assinou um contrato com o Google em 2024.
Outra startup, a Aalo Atomics, iniciou a construção de um novo local de reatores em Utah e afirma que seu reator resfriado a sódio estará pronto no próximo ano. A Oklo, que ainda não tem uma grande empresa de tecnologia por trás, embora tenha vínculos óbvios com a OpenAI, provavelmente terá que competir por contratos de seus apoiadores, já que empresas menores não terão o orçamento para comprar energia nuclear experimental diretamente de uma empresa. “Se estivermos comprando energia nuclear, ela vem da mistura da rede elétrica”, diz Brian Venturo, diretor de estratégia da empresa de computação em nuvem CoreWeave. “Nós não temos o balanço patrimonial para sair e cometer esse erro algumas vezes”, afirma o executivo.
Até mesmo o mais próximo aliado tecnológico da Oklo, Altman, parece ter protegido seus investimentos. Sua maior aposta conhecida é a startup de fusão nuclear Helion, na qual ele investiu US$ 375 milhões (R$ 2 bilhões) em 2021, uma grande parte de seu capital líquido na época. A OpenAI supostamente estava em negociações para comprar grandes quantidades de energia nuclear da Helion, que terminou seu protótipo Polaris em 2024 e espera entregar eletricidade pré-comprada à Microsoft já em 2028.
A Oklo não é a única fusão de SPAC com apoio de bilionários que alcançou uma capitalização de mercado de bilhões de dólares sem gerar receita. A empresa de carros autônomos Aurora Innovation se fundiu com uma SPAC apoiada pelos bilionários Reid Hoffman e Mark Pincus, e se tornou pública em um acordo de US$ 13 bilhões (R$ 69,3 bilhões) em 2021.
A capitalização de mercado da Aurora agora gira em torno de US$ 11 bilhões (R$ 58,6 bilhões), apesar de não ter registrado receita em 2024. Cofundada por Brett Adcock, o bilionário por trás da Figure AI, e financiada pelo bilionário Marc Lore, a Archer Aviation se tornou pública em 2021 por meio de uma SPAC. A empresa é especializada em fabricar aeronaves movidas a eletricidade que decolam e pousam verticalmente. Lore já retirou sua participação da Archer, que agora vale cerca de US$ 6 bilhões (R$ 32 bilhões).
Ainda assim, apesar da falta de receita, a Oklo tem muitos fãs. Mais de dois terços dos analistas de Wall Street que cobrem a ação a avaliam como compra, enquanto 90% dos investidores de varejo mantêm uma posição longa. O entusiasmo dos investidores em torno da Oklo, assim como um mercado mais forte para IPOs, pode abrir caminho para outras startups nucleares também se tornarem públicas. Mas há motivos para cautela, já que a competição aumenta e as receitas provavelmente ainda estão a anos de distância.
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