O Gestor Que Ganha Seguindo Bilionários

Forbes, a mais conceituada revista de negócios e economia do mundo.

No setor de fundos de investimento da City of London, é cada um por si. Tanto que Daniel Loeb, investidor “ativista”, conhecido por sacudir gestões corporativas paradas, acabou sendo alvo de outro ativista.

Após uma votação dos acionistas da empresa, em 14 de agosto, Loeb conseguiu realizar a fusão polêmica de seu fundo listado em Londres com uma seguradora offshore que ele também controla. Mas não saiu da disputa ileso: precisou desembolsar mais dinheiro aos acionistas dissidentes do que gostaria.

À frente dos dissidentes estava Joe Bauernfreund, um gestor britânico de fala mansa que tem uma especialidade curiosa: ele acompanha bilionários — ou melhor, suas holdings. Seu veículo é o AVI Global Trust, uma companhia de investimentos do Reino Unido avaliada em US$ 1,6 bilhão (R$ 8,56 bilhões). Este tradicional fundo fechado, criado em 1889, nasceu para especular na região de Transvaal, rica em diamantes, na África, mas nas últimas décadas se redefiniu como um jogador de valor.

A AVI compra ações de empresas que negociam com desconto em relação ao seu valor de liquidação. Algumas dessas são companhias operacionais com muitos ativos, a maioria são fundos de investimento ou holdings controladas por famílias ricas, mas também é possível encontrá-las no Japão. O mercado de Tóquio, especificamente, tem muitas empresas com imóveis e outros ativos cujo valor é quase igual ao de suas capitalizações de mercado, segundo Bauernfreund. Na prática, você está adquirindo uma empresa operacional por um múltiplo baixo — às vezes até zero — de seus lucros. Mas os investidores externos precisam ter paciência ao pressionar a gestão para vender ativos ou recomprar ações.

“Ser um acionista ativista contra alguém como Dan Loeb traz lições para atuar no Japão”, afirma, “mas precisamos abordar de maneira muito diferente. Ser um ativista hostil agressivo no Japão é praticamente pedir para fracassar.” Bauernfreund espera ter sucesso com a Mitsubishi Logistics e a Rohto Pharmaceutical.

Negócios familiares

Entre os alvos de Bauernfreund já estiveram diversas entidades, como as controladas pela família Agnelli, da Itália (cuja fortuna vem da Fiat e da Ferrari), Leon Black (Apollo), a família D’Ieteren, da Bélgica (Safelite auto glass), o francês Vincent Bolloré (Vivendi) e Bernard Arnault (LVMH), a família Keswick, do Reino Unido (Jardine Matheson) e os Murdoch (News Corporation).

A maioria das pessoas enxerga a News Corp como uma empresa de mídia. A AVI, porém, a classifica como uma holding, sendo seus ativos mais valiosos o Wall Street Journal e uma participação de 61% na REA, uma empresa imobiliária australiana. Bauernfreund afirma que a News Corp negocia com um desconto de 41% em relação ao seu valor de liquidação.

Caçar pechinchas compensa. Nos 40 anos desde que a gestora Asset Value Investors assumiu o contrato para administrar o então chamado British Empire Trust, o fundo entregou um retorno composto anual de 11,8% em libras, 2,4 pontos percentuais (p.p.) acima do índice global de ações ACWI (índice que compõe quase 3 mil empresas de 23 países desenvolvidos e 26 de nações emergentes).

Dos dois lados da mesa

A esperança de um acionista minoritário é que os controladores de uma empresa listada façam, talvez após alguma pressão, algo para reduzir esse desconto. Eles podem recomprar ações, simplificar uma estrutura corporativa complexa de forma a tornar a parte listada mais atraente ou até partir para uma liquidação total que elimine o desconto.

“Não podemos forçar essas famílias a fazer o que não querem”, diz Bauernfreund. “As que nos interessam não só agiram em favor de suas famílias, mas também não abusaram dos acionistas minoritários.”

Bauernfreund, de 53 anos, já trabalhou do outro lado da mesa. Ele começou analisando imóveis para uma família rica que possuía uma coleção de ativos privados e também uma empresa imobiliária listada em bolsa. Com o tempo, a família decidiu fechar o capital comprando a participação dos investidores públicos. Bauernfreund então seguiu para a London Business School para fazer mestrado, com uma tese sobre asset plays. Em 2002, ele ingressou na AVI e hoje é diretor de investimentos e o maior acionista da gestora.

Complexas e múltiplas

Holdings podem ser complicadas, misturando participações em empresas listadas e em companhias privadas. O exemplo principal é o império comandado pelo francês Vincent Bolloré, de 73 anos. A coleção de empresas e participações cruzadas de Bolloré é vertiginosamente complexa, mas aqui vai a versão resumida:

A Bolloré SE é um conglomerado com negócios em mídia, logística e telecomunicações. Ela possui ações da Universal Music Group (UMG), a maior editora de música do mundo, e também da Vivendi, que já foi uma empresa de saneamento, mas que, após anos de negociações, se transformou em um fundo de investimento de fato. Ela detém ações da UMG e também de outras companhias listadas em bolsa.

Tanto a Bolloré quanto a Vivendi negociam com descontos significativos em relação aos seus valores de liquidação, segundo Bauernfreund. O fundo da AVI tem participações em ambas.

Por que outras pessoas não veem valor? A resposta de Bauernfreund é direta: “para muitos investidores, esse tipo de empresa é simplesmente impossível de investir, seja porque são preguiçosos, seja porque é muito complexo ou porque não se encaixa na forma como as pessoas entendem o mundo.”

E por que um grande negociador toleraria holdings e seus incômodos acionistas minoritários? “Participações cruzadas entre várias holdings listadas e não listadas permitem, na prática, que ele controle um volume maior de ativos com uma quantidade limitada de capital”, afirma o executivo. “É o manual que muitas famílias europeias usaram ao longo dos anos para expandir sua riqueza.”

Outra motivação pode ser a questão tributária. A redução do valor de uma holding poderia, presumivelmente, ser útil em declarações de imposto sobre herança ou patrimônio.

Na construção de seu império de bens de luxo — e ao se tornar, em alguns momentos, a pessoa mais rica do planeta — Arnault deixou em circulação uma fatia de 2% da holding Christian Dior. A Dior, cuja única atividade é deter ações da LVMH, negocia com um desconto de 18% em relação ao valor de seus ativos líquidos. O fundo da AVI possui parte desse pequeno volume em circulação; Bauernfreund aposta em uma futura redução desse desconto, possivelmente com a dissolução da estrutura de holding.

Quando as coisas dão certo, um acionista minoritário que acompanha um grande magnata pode ter um ganho duplo: o desconto diminui ao mesmo tempo em que o ativo subjacente apresenta bom desempenho. É razoável apostar neste ponto, já que bilionários não chegaram onde estão fazendo maus investimentos.

Não é regra

Bolloré, no entanto, começou em posição privilegiada: em 1981, assumiu de bancos credores o controle de uma empresa familiar em dificuldades financeiras pelo valor de um franco (R$ 6,71) e a promessa de pagar suas dívidas. Hoje, a Forbes estima a fortuna de sua família em US$ 10,4 bilhões (R$ 55,64 bilhões). Ele merece um A+ em desempenho. Mas e quanto ao desconto?

Em julho, a Autorité des Marchés Financiers (autoridade reguladora do mercado financeiro da França e do Quebec, no Canadá) determinou que o emaranhado da Bolloré SE com a Vivendi é tal que a companhia deve fazer uma oferta para comprar todas as ações em circulação dessa entidade a um preço justo (ainda a ser definido). Bolloré está recorrendo dessa decisão, mas a medida foi suficiente para fazer o preço das ações da Vivendi subir 14%.

O impasse com Loeb terminou com uma vitória modesta para os investidores externos. Embora baseado em Nova York, Loeb criou em Londres um fundo de investimento listado em bolsa, o Third Point Investors, para captar mais capital. O único ativo da Third Point era uma participação em outra entidade de Loeb, um fundo offshore que é uma empresa privada, mas que divulga sua lista de posições em ações, que recentemente somava US$ 7,6 bilhões (R$ 40,66 bilhões).

Ao cair em desgraça, o fundo listado da Third Point passou a negociar com um desconto de 31% em relação ao seu valor patrimonial líquido. Loeb decidiu então fundi-lo com uma nova entidade, uma empresa de resseguros (offshore, claro) que ele havia criado. A nova companhia ainda não fez muita coisa, mas, segundo a proposta apresentada aos investidores, tem um grande plano: ganhar dinheiro levantando capital por meio da venda de anuidades de taxa fixa, ao tempo em que empresta esses recursos a taxas mais altas nos mercados de hipotecas e de títulos de alto risco (junk bonds). Na forma originalmente proposta, a fusão permitiria que os investidores do fundo de Londres recebessem dinheiro por uma parte de suas ações, mas fossem obrigados a aceitar ações da seguradora para o restante.

A AVI, que detinha ações no fundo de Londres, protestou. A mudança de fundo de investimento para seguradora era tão radical que os acionistas mereciam a opção de sair recebendo o valor integral dos ativos, argumentou a gestora, incentivando-os a votar contra a fusão. A empresa perdeu a votação, mas conseguiu arrancar de Loeb um aumento de 81% na distribuição em dinheiro. Um funcionário de Loeb argumenta que um conselho independente aprovou a transação.

O AVI Global tem participações em nove fundos fechados que, como o Third Point, negociam com desconto em relação ao valor dos ativos e poderiam gerar um ganho imediato caso fossem liquidados. Mas ele próprio também é um fundo fechado que negocia com desconto. Em 2001, um fundo de hedge de Nova York comprou 16% de participação e exigiu uma vaga no conselho. Os controladores venceram por pouco a votação dos acionistas, mas a ameaça de uma liquidação forçada nunca desapareceu.

Para se manter em boa posição com os acionistas — e também com o conselho independente do fundo, que poderia demitir a AVI e contratar um novo gestor —, o AVI Global periodicamente recompra suas próprias ações, mantendo o desconto em torno de 7% recentemente. Essas recompras sacrificiais reduzem a base de ativos sobre a qual a AVI recebe uma taxa anual de 0,7%, mas diminuem o risco de um desfecho mais drástico.

Diz o cortês Bauernfreund: “enquanto os acionistas estiverem satisfeitos com a AVI, o conselho provavelmente se sentiria obrigado a renovar o contrato de gestão.”

Quem melhor do que um predador para saber como é fácil se tornar presa?

O post O Gestor Que Ganha Seguindo Bilionários apareceu primeiro em Forbes Brasil.

Fonte

#Gestor #Ganha #Seguindo #Bilionários

Observação da postagem

Nosso site faz a postagem de parte do artigo original retirado do feed de notícias do site forbe Brasil

O feed de notícias da Forbes Brasil apresenta as últimas atualizações sobre finanças, investimentos e tendências econômicas. Com análises detalhadas e insights de especialistas, a plataforma aborda tópicos relevantes como mercado de ações, criptomoedas, e inovação em negócios. Além disso, destaca histórias de empreendedores e empresas que estão moldando o futuro da economia. A Forbes também oferece dicas sobre gestão financeira e estratégias para aumentar a riqueza pessoal. Com um enfoque em informações precisas e relevantes, o site se torna uma fonte confiável para quem busca se manter atualizado no mundo financeiro.

Palavras chaves

O Gestor Que Ganha Seguindo Bilionários

Notícias de finanças
Mercado financeiro hoje
Análise de mercado de ações
Investimentos em 2024
Previsão econômica 2024
Tendências do mercado de ações
Notícias sobre economia global
Como investir na bolsa de valores
Últimas notícias financeiras
Mercado de ações ao vivo
Notícias de economia mundial
Análise de investimentos
Dicas para investir em ações
Previsão de crescimento econômico
Como começar a investir
Análises financeiras atualizadas
Mercado de criptomoedas hoje
Previsão de recessão econômica
Finanças pessoais e investimentos
Notícias sobre bancos e finanças