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Por Que a ‘Grande Transferência de Riqueza’ Geracional Pode Falhar

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Os números envolvidos na chamada Grande Transferência de Riqueza são impressionantes. Estima-se que mais de US$ 124 trilhões (R$ 693,1 trilhões) devem mudar de mãos à medida que os Baby Boomers repassam seu patrimônio para a próxima geração. Mas será que essa Grande Transferência de Riqueza realmente vai cumprir a promessa de gerar uma bolada?

Já na casa dos 60 anos, Bill e Lori* sempre acreditaram que, quando chegasse a hora, deixariam uma herança para os filhos. Nada extravagante — apenas uma casa modesta no subúrbio e economias acumuladas ao longo da vida. Para os filhos, Diane e Adam, isso trazia uma tranquilidade silenciosa, uma espécie de rede de segurança mental da qual nunca dependeram totalmente, mas que sempre consideraram parte do futuro.

Mas a vida tem o hábito de mudar planos e boas intenções. A artrite de Bill, somada ao início de um quadro de demência, trouxe custos inesperados. Lori, ainda cheia de energia, mas também lidando com seus próprios desafios de saúde, está pagando por cuidadores em casa e por reparos no telhado que já deviam ter sido feitos há anos. Além disso, decidiu que finalmente é hora de realizar a tão sonhada viagem à Itália, que o casal vinha planejando há décadas. Diane e Adam entendem e ficam felizes em ver os pais aproveitando a aposentadoria da melhor forma possível — mas percebem que a herança que antes esperavam, mesmo que discretamente, talvez não seja tão certa quanto imaginavam.

A história de Bill e Lori não é exceção. Ela representa o lado pouco falado da tão comentada transferência de riqueza — a mudança histórica de trilhões de dólares, principalmente dos envelhecidos Baby Boomers para os Millennials e a Geração Z. Os números — assim como a herança que Diane e Adam um dia consideraram garantida — não mentem, mas escondem os inúmeros fatores reais que podem mudar o rumo, o momento e até o valor dessa transferência: a longevidade, os custos crescentes com saúde, as mudanças na dinâmica familiar e as novas prioridades. É uma história ainda pouco contada, mas que já está em curso dentro da chamada economia da longevidade.

É fácil se deixar levar pelos números de impacto: trilhões de dólares prestes a trocar de mãos, uma injeção econômica única em uma geração. No entanto, como mostra a experiência dessa família, a história da Grande Transferência de Riqueza é bem mais complexa. Trata-se de vidas mais longas, acontecimentos inesperados, prioridades que evoluem, custos que aumentam — e da constatação de que a segurança financeira de uma geração não garante, necessariamente, uma grande herança para a próxima.

Seis fatores que moldam a Grande Transferência de Riqueza

Para entender como a Grande Transferência de Riqueza pode acontecer — e por que ela talvez não seja tão “grandiosa” quanto as manchetes prometem — é preciso observar seis fatores pouco discutidos que estão moldando essa enorme mudança de patrimônio.

1. Concentração de riqueza

Estimativas da Cerulli Associates indicam que cerca de US$ 124 trilhões (R$ 693 trilhões) serão transferidos até 2048, sendo quase US$ 100 trilhões (R$ 559 trilhões) provenientes dos Baby Boomers e das gerações mais velhas. No entanto, mais de 50% dessa riqueza está concentrada em famílias de alta e altíssima renda, que representam apenas 2% de todos os lares. Para a maioria dos jovens americanos, essa esperada transferência pode simplesmente não acontecer — porque esse patrimônio não existe para eles.

2. Custos com saúde

Mesmo entre as famílias que devem herdar algo, o custo crescente com cuidados médicos está corroendo esse patrimônio silenciosamente. A Fidelity estima que um casal de 65 anos nos Estados Unidos hoje precisará de cerca de US$ 330 mil (R$ 1,8 milhão) para despesas médicas durante a aposentadoria — e isso sem incluir os custos de cuidados de longo prazo. Essas despesas geralmente surgem quando menos se espera: uma hospitalização repentina, uma doença crônica que exige acompanhamento contínuo ou o simples aumento dos prêmios de seguro com o avanço da idade.

Essa realidade afeta especialmente as mulheres, que costumam viver mais do que seus maridos — muitas vezes por anos ou até décadas. Para muitas, essa “segunda aposentadoria” significa lidar sozinhas com os custos crescentes da saúde. O que antes era um plano compartilhado de herança ou legado familiar pode se transformar em uma luta silenciosa para bancar o próprio cuidado e manter a autonomia. Essas despesas na velhice fazer do que um dia foi considerado uma herança certa em uma reserva que passa a ser usada para lidar com os desafios de viver mais.

A demência representa uma ameaça significativa — e muitas vezes negligenciada — à esperada Grande Transferência de Riqueza. Um relatório do MIT AgeLab, em parceria com a AARP, mostra que erros financeiros — como o não pagamento de contas, investimentos arriscados ou vulnerabilidade a golpes — podem começar anos antes de um diagnóstico formal, gerando perdas substanciais e corroendo economias que poderiam virar herança. Além disso, os custos com cuidados de longo prazo para pessoas com demência podem arruinar as finanças de uma família. Esse impacto financeiro não apenas esvazia os recursos planejados para serem transferidos, mas também impõe um grande peso sobre os familiares, que muitas vezes assumem responsabilidades de cuidadores — o que afeta sua própria estabilidade financeira e seus planos de aposentadoria.

3. Imóveis: patrimônio ou fardo caro?

Boa parte da riqueza dos Baby Boomers está concentrada em imóveis. Em geral, são casas em bairros suburbanos que nem sempre combinam com o estilo de vida ou as necessidades das gerações mais jovens. Muitos Boomers estão permanecendo nessas casas por mais tempo, frequentemente negligenciando a manutenção necessária. Uma reportagem da Business Insider observou que muitas dessas casas estão cheias de objetos acumulados ao longo da vida, o que demanda tempo e dinheiro para organizar — criando um “legado imobiliário” que pode parecer mais um problema do que um presente.

Para filhos que herdam uma casa em um subúrbio envelhecido, os custos — financeiros e emocionais — podem ser grandes, principalmente em um cenário de juros instáveis. Decidir se vendem, alugam ou reformam o imóvel pode se tornar um processo complicado, especialmente se o imóvel precisar de reformas ou se houver vários herdeiros envolvidos.

4. Mudança nas prioridades dos Baby Boomers

A ideia tradicional de deixar um legado está mudando. Para muitos Boomers, o objetivo não é mais guardar tudo para os filhos, mas aproveitar a vida enquanto podem. Um número crescente está priorizando viagens, experiências e melhorias na casa em vez de economizar cada centavo para a herança.

Um estudo da Charles Schwab mostra que quase todos os americanos com alto patrimônio pretendem deixar uma herança. No entanto, 21% dos Boomers preferem adotar uma estratégia de “doar em vida” — como criar memórias por meio de viagens em família ou ajudar os filhos adultos a comprar um imóvel. O mais revelador é que 45% dos Boomers concordaram com a frase: “quero aproveitar meu dinheiro enquanto ainda estou vivo.”

5. Afastamento familiar

Nem todas as famílias permanecem próximas. O fenômeno popularmente conhecido como no contact (sem contato) está ganhando força. Um em cada quatro americanos (27%) afirma estar afastado de um dos pais, filhos, irmãos ou avós. Esses rompimentos profundos podem desestruturar totalmente planos de herança.

O afastamento também levanta questões difíceis: o que fazer com a casa da família se ninguém a quiser — ou se ninguém estiver disposto a conversar? Como o dinheiro é transferido quando não existe mais uma relação? Esses silêncios podem transformar até os planos mais generosos em fontes de confusão e conflito.

6. Atraso na herança devido à longevidade

Com o aumento da expectativa de vida e os avanços nos cuidados com a saúde, as heranças estão chegando mais tarde do que as gerações mais jovens esperavam. Isso significa que as Geração X e os Millennials, que talvez já tenham enfrentado grandes marcos financeiros — como comprar uma casa ou pagar a faculdade dos filhos — sem a ajuda esperada, podem acabar recebendo uma herança com valor mais simbólico do que transformador.

Para as mulheres, esse prolongamento da vida complica ainda mais as coisas. Uma década ou mais de aposentadoria solitária tende a mudar a relação com os filhos adultos e a forma como se enxerga o legado financeiro. Planos feitos enquanto o casal ainda estava junto acabam sendo revistos por quem sobrevive — geralmente a mulher —, que passa a equilibrar suas próprias necessidades com o desejo de deixar algo para os filhos.

Os números não contam a história toda

Os dados sobre a Grande Transferência de Riqueza são impressionantes, mas ajudam a sustentar uma narrativa que esconde o que está por trás dela: não se trata apenas de cifras, mas sim de décadas de vidas mais longas, de relações familiares em transformação e das decisões humanas sobre o que significa viver bem e deixar algo significativo. No fim das contas, essa transferência não será medida apenas pelos saldos bancários, mas pela forma como as famílias enfrentam essas complexidades silenciosas — equilibrando cuidado, vínculo, comunicação, propósito e legado em um mundo onde viver mais significa viver de forma diferente.

 

*Nomes e detalhes foram alterados para preservar a privacidade das pessoas

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